Ah, desde pequeno
Eu já sonhava em ser um gênio
Ouvindo aquele nêgo feio cornetar
Nova orleans era o destino certo
Para um menino que aprendia a arte de improvisar
Mas a grana tava curta
E em quintino foi onde deu pra chegar
Eu me encontrei perdido lá na terra do galinho
Perguntando se a lapa era pá lá
Nêgo me olhava embasbacado cochichando
"Esse cara tá chapado, chama logo os militar"
Não! Polícia não...
Fui preso, interrogado
E sem nenhum flagrante achado
O delegado ainda quis me segurar
Mais meia hora olhando a cara do arrombado
Que muito contrariado teve que me liberar
Falou: "você pode ir embora, a viola eu vou ter que confiscar"
Eu levantei danado, berrando
Um desacato pro safado me enquadrar
Me algemou pra eu passar a noite em cana
Alegando que a rua não é lugar de vadiar
Na manhã seguinte, liberado
Violão recuperado
Eu só pensava em me mandar
Mas sem nenhum tostão furado
No primeiro orelhão parei
Liguei pros meus parceiros a cobrar
Falei: "rapeize, eu tô sem grana e to perdido, venham já me resgatar!"
Na espera do resgate
Sento num banco de praça
Um bluesinho eu começo a tocar
Quando eu reparo, eu vejo mais de dez cabeças
E uma menina bem jeitosa se abaixando pra falar:
"Você toca bem bonito, refinado, mas a gente quer dançar!"
Então
Liga pro pai, fala com a mãe, avisa a tia
Chama toda a família
A limusine vai chegar!